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No Dia do Planeta Terra, mundo caminha para o caos climático

No mesmo dia em que deveria ser celebrado, o Planeta Terra pede socorro. Apenas nesta semana, nos deparamos com estudos apontando que as emissões de carbono vão disparar e atingir a segunda maior taxa da história em 2021, e, ainda, que os níveis de aquecimento global estão cada vez mais próximos de ultrapassar o limiar crítico de 1,5°C.

Segundo o último relatório da OMM (Organização Meteorológica Mundial), no decorrer de 2020 a temperatura atingiu 1,2°C acima do nível pré-industrial. E a última década foi a mais quente de todas, com 2020 na liderança, que acabou sendo o ano mais quente da história.

“Estamos à beira do abismo”, declarou esta semana o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres.

Os cientistas já documentaram esses impactos das mudanças climáticas (isso quer dizer que já estão comprovados):

  • O gelo está derretendo em todo o mundo, especialmente nos pólos da Terra. Isso inclui geleiras de montanha, mantos de gelo cobrindo a Antártica Ocidental e a Groenlândia e o gelo do mar Ártico.
  • Muito desse gelo derretido contribui para a elevação do nível do mar. Os níveis globais do mar estão subindo 0,13 polegadas (3,2 milímetros) por ano, e o aumento está ocorrendo em um ritmo mais rápido nos últimos anos.
  • O aumento das temperaturas está afetando a vida selvagem e seus habitats. O desaparecimento do gelo desafiou muitas espécies e algumas populações na península ocidental entraram em colapso em 90% ou mais.
  • A precipitação (chuva e neve) aumentou em todo o mundo. No entanto, algumas regiões estão enfrentando secas mais severas, aumentando o risco de incêndios florestais, colheitas perdidas e escassez de água potável.
  • Algumas espécies – incluindo mosquitos, carrapatos, águas-vivas e pragas de plantações – estão prosperando. Populações em expansão de escaravelhos que se alimentam de abetos e pinheiros, por exemplo, devastaram milhões de hectares de floresta nos Estados Unidos.

Outros efeitos podem ocorrer ainda neste século, se o aquecimento continuar.

  • Os níveis do mar devem subir entre 26 e 82 centímetros ou mais até o final do século.
  • Furacões e outras tempestades provavelmente se tornarão mais fortes. Inundações e secas se tornarão mais comuns.
  • Haverá menos água doce disponível, já que as geleiras armazenam cerca de três quartos da água doce do mundo.
  • Algumas doenças se espalharão, como a malária transmitida por mosquitos.
  • Os ecossistemas continuarão a mudar: algumas espécies irão migrar mais para o norte; outros, como os ursos polares, não serão capazes de se adaptar e podem se extinguir.

Estamos destruindo planeta

Os seres humanos – mais especificamente, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) que geramos – são a principal causa das rápidas mudanças climáticas da Terra. A quantidade desses gases em nossa atmosfera disparou nas últimas décadas. Na verdade, a parcela de dióxido de carbono da atmosfera – o principal contribuinte da mudança climática do planeta – aumentou 40% desde os tempos pré-industriais.

A queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás para eletricidade, aquecimento e transporte é a principal fonte de emissões geradas pelo homem. Uma segunda fonte importante é o desmatamento, que libera carbono sequestrado no ar. Estima-se que a extração de madeira, corte raso, incêndios e outras formas de degradação florestal contribuem com até 20% das emissões globais de carbono.

Embora as florestas e oceanos de nosso planeta absorvam gases de efeito estufa da atmosfera por meio da fotossíntese e outros processos, esses sumidouros naturais de carbono não conseguem acompanhar o aumento de nossas emissões. O resultante acúmulo de gases de efeito estufa está causando um aquecimento assustadoramente rápido em todo o mundo.

Os efeitos da mudança climática global

De acordo com o Fórum Econômico Mundial, o fracasso em mitigar e se adaptar às mudanças climáticas será “o risco mais impactante” enfrentado pelas comunidades em todo o mundo na próxima década – à frente até mesmo das armas de destruição em massa e crises de água.

Culpe os efeitos em cascata: conforme a mudança climática transforma os ecossistemas globais, ela afeta tudo, desde os lugares em que vivemos até a água que bebemos e o ar que respiramos.

Clima extremo

À medida que a atmosfera da Terra se aquece, ela coleta, retém e despeja mais água, mudando os padrões climáticos e tornando as áreas úmidas mais úmidas e as secas mais secas. As temperaturas mais altas pioram e aumentam a frequência de muitos tipos de desastres, incluindo tempestades, inundações, ondas de calor e secas.

Esses eventos podem ter consequências devastadoras e caras, colocando em risco o acesso à água potável, alimentando incêndios florestais descontrolados, danificando propriedades, criando derramamentos de materiais perigosos, poluindo o ar e levando à perda de vidas.

Ar poluído

A poluição do ar e as mudanças climáticas estão ligadas, uma aumentando a outra. Quando as temperaturas da Terra sobem, não apenas nosso ar fica mais sujo – com níveis de poluição e fuligem subindo – mas também há mais poluentes alergênicos, como mofo circulante (graças às condições úmidas de climas extremos e mais inundações) e pólen (devido para estações de pólen mais longas e mais fortes).

Mares ascendentes

O Ártico está esquentando duas vezes mais rápido do que qualquer outro lugar do planeta. À medida que seus mantos de gelo derretem nos mares, nossos oceanos estão a caminho de subir de trinta centímetros a um metro mais alto até 2100, ameaçando ecossistemas costeiros e áreas baixas. As nações insulares enfrentam riscos específicos, assim como algumas das maiores cidades do mundo, incluindo Nova York, Mumbai e Sydney.

Oceanos mais quentes e ácidos

Os oceanos da Terra absorvem entre um quarto e um terço de nossas emissões de combustíveis fósseis e agora são 30 por cento mais ácidos do que eram na época pré-industrial. Essa acidificação representa uma séria ameaça à vida subaquática, principalmente às criaturas com conchas calcificadas ou esqueletos como ostras, mariscos e corais.

Pode ter um impacto devastador sobre os mariscos, bem como sobre os peixes, pássaros e mamíferos que dependem dos moluscos para seu sustento. O aumento da temperatura do oceano também está alterando o alcance e a população de espécies subaquáticas e contribuindo para eventos de branqueamento de corais capazes de matar recifes inteiros – ecossistemas que sustentam mais de 25% de toda a vida marinha.

Ecossistemas em perigo

A mudança climática está aumentando a pressão sobre a vida selvagem para se adaptar a habitats em mudança – e rápido. Muitas espécies procuram climas mais frios e altitudes mais elevadas, alterando comportamentos sazonais e ajustando os padrões tradicionais de migração. Essas mudanças podem transformar fundamentalmente ecossistemas inteiros e as intrincadas teias de vida que dependem deles.

E um estudo de 2015 mostrou que mamíferos, peixes, pássaros, répteis e outras espécies de vertebrados estão desaparecendo 114 vezes mais rápido do que deveriam, um fenômeno que tem sido associado a mudanças climáticas, poluição e desmatamento – todas ameaças interligadas. Por outro lado, invernos mais amenos e verões mais longos permitiram que algumas espécies prosperassem, incluindo insetos matadores de árvores que estão colocando em risco florestas inteiras.

Apesar do que os negadores do clima e os apoiadores dos combustíveis fósseis afirmam, não há nada em debate. A mudança climática é uma realidade. O aquecimento do sistema climático é um fato e, desde a década de 1950, muitas das mudanças observadas não têm precedentes ao longo de décadas a milênios. A atmosfera e o oceano aqueceram, a quantidade de neve e gelo diminuiu e o nível do mar.

*Com informações da OMM e NRDC

Porto Alegre lança Frente Parlamentar das Energias Sustentáveis e Renováveis nesta sexta-feira

A cidade de Porto Alegre dá um passo importante nesta sexta-feira (09), às 15h, com o lançamento da Frente Parlamentar das Energias Sustentáveis e Renováveis. A iniciativa, que contará com a participação do Instituto Internacional Arayara, tem como objetivo debater a geração de energia sustentável e todas as possibilidades econômicas, ambientais e culturais que isso implica para o município.

A proposta é da vereadora Cláudia Araújo (PSD) – que vem realizando reuniões periódicas com a Arayara para planejar ações municipais voltadas para as energias renováveis, o meio ambiente e as mudanças climáticas – como a criação da frente parlamentar e a geração de empregos dentro da indústria de energias renováveis.

Com apoio do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), se trata de uma importante iniciativa da maior capital da região Sul do Brasil, que toma a decisão de não só investir na qualidade de vida da população, mas incentivar a economia local, já que a proposta pode gerar mais de 100 mil empregos dentro da área de energia e sustentabilidade nos próximos anos.

No requerimento, a vereadora destaca que a utilização de recursos renováveis é benéfica para a economia também por exigir menos investimentos que a indústria de combustíveis fósseis.

Ressalta, ainda, que fontes limpas de energia são aliadas do meio ambiente, por preserveram recursos esgotáveis, garantirem a manutenção dos ecossistemas e ainda reduzirem a emissão de gases poluentes. A criação da frente parlamentar foi aprovada por unanimidade.

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“Hoje, a energia limpa é extremamente urgente e necessária. Falamos em fontes renováveis de energia, como a solar, eólica, fonte de biomassa, que estão disponíveis através dos nossos recursos naturais. Temos algumas discussões importantes para trazer com essa frente e esse assunto precisa ser incluído cada vez mais porque é o futuro”, ressaltou a vereadora na aprovação do projeto.

Com intuito de criar e debater as novas formas de buscar e gerar energia, a Frente Parlamentar das Energias Sustentáveis e Renováveis buscará acolher as discussões para ampliar as benfeitorias para o município.

Queremos avançar com esta pauta, que é extremamente importante e irá proporcionar ganhos quanto à redução das emissões de gases de efeito estufa, sobre a alto geração de energia e a geração de empregos para o clima. Quando realizamos uma política pública consistente de descarbonização, estamos gerando uma transição justa de energia que beneficia todos”, reforça o engenheiro e diretor do Instituto Internacional Arayara, Juliano Bueno de Araújo.

Vale lembrar o estudo recente liderado pelo WRI Brasil e pela iniciativa New Climate Economy, que apontam que, ao integrar a sustentabilidade como uma política transversal no planejamento e implementação de decisões de investimento, o Brasil pode se beneficiar das tendências dos mercados financeiros e ampliar o acesso ao financiamento privado.

Após analisar uma série de ações sustentáveis, como implementação de veículos híbridos a etanol e elétricos, ônibus elétricos, caminhões a célula de combustível, biocombustível e eficiência energética, alguns resultados constatam que o Brasil pode obter benefícios econômicos cumulativos de R$ 2,8 trilhões em valor do PIB até 2030 – o dobro da poupança obtida pela reforma da Previdência.

“Responder de forma integral como o Brasil deve construir uma economia mais eficiente, resiliente, justa e sustentável é algo a ser feito em sociedade. O que este estudo se propõe é mostrar uma série de elementos contundentes que evidenciam como o Brasil nunca esteve tão apto a implementar esta novo economia e o quanto o país e seu povo têm a ganhar com ela”, aponta.

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Dia Mundial da Água: Como a exploração de combustíveis fósseis ameaça nosso bem mais vital

Dia Mundial da Água. Dia de conscientizar, mobilizar, alertar e ressaltar a importância de proteger o bem mais precioso do planeta e que corre riscos de contaminação e escassez por todos os lados.

Dados da UNICEF e da Organização Mundial da Saúde apontam que uma em cada três pessoas no mundo não possui acesso à água potável e três bilhões de pessoas não possuem instalações básicas para lavar as mãos de forma adequada.

Além disso, o mundo ainda enfrenta, diariamente, questões urgentes ligadas à contaminação e poluição dos recursos hídricos, ainda mais agravadas pela exploração de combustíveis fósseis e, consequentemente, as mudanças climáticas.

Não é nenhuma novidade que a exploração de combustíveis fósseis está diretamente ligada à contaminação da água por todo o mundo. O desenvolvimento de carvão, petróleo e gás representa inúmeras ameaças aos cursos de água e lençóis freáticos.

Derramamentos e vazamentos de óleo durante a extração ou transporte poluem as fontes de água potável e colocam em risco toda a água doce e ecossistemas oceânicos.

Vale lembrar que ainda nem se completaram dois anos do mega acidente petroleiro que atingiu mais de 2 mil quilômetros do litoral das regiões Nordeste e Sudeste, gerando prejuízos bilionários para a indústria do Turismo, a indústria da Pesca e ao Meio Ambiente.

Agora, enfrentamos um novo desafio. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) quer colocar em risco as águas que banham o Parque Nacional de Fernando de Noronha e outros santuários naturais para explorar petróleo e gás. Junte-se à nossa campanha e #SalveFernandodeNoronha.

Os perigos da exploração

Todas as operações de perfuração, fraturamento e mineração geram enormes volumes de águas residuais, que podem ser carregadas com metais pesados, materiais radioativos e outros poluentes.

As operações de mineração de carvão impactam o abastecimento de água, geralmente com efeitos de longa duração. A questão fundamental envolve a contaminação de rios, lagos e aquíferos próximos à mina de carvão – geralmente água altamente ácida contendo metais pesados ​​como arsênico, cobre e chumbo.

A maioria das cinzas de carvão ainda é armazenada em tanques ou fossos sem revestimento. Com o tempo, os metais pesados ​​nas cinzas podem escapar para os cursos d’água próximos e contaminar a água potável.

No Rio Grande do Sul, estamos lutando contra a instalação de uma mina de carvão que traz riscos graves de abastecimento e contaminação da água que abastece milhões de pessoas, além de uma série de danos ambientais que podem ser irreversíveis na região.

O licenciamento ambiental concedido para a Mina Guaíba não previu uma série de riscos e impactos na qualidade da água do Rio Jacuí, responsável por 86,3% da vazão média de aporte ao Lago Guaíba, ou seja, é o maior responsável pela quantidade de água. Participe da campanha.

O fracking – fraturamento hidráulico – e seus fluidos tóxicos também contaminam a água potável. Dentre os químicos estão benzeno, diesel, naftaleno, cloreto de benzilo, formaldeído, bário e chumbo.

Estes são só alguns dos problemas causados pelo fracking:

  • Declínio de água de lençóis freáticos
  • Altas concentrações de químicos nos lençóis freáticos devido a derramamentos de fluídos de fracking e químicos, e à injeção em poços
  • Injeção de fluídos de fracking diretamente nos lençóis freáticos
  • Despejo de fluído de fracking em águas de superfície
  • Despejo de fluído em lagoas não impermeabilizadas que levam à contaminação dos lençóis freáticos

As indústrias ainda armazenam resíduos de fracking em fossos a céu aberto ou poços subterrâneos que podem vazar ou transbordar para os cursos d’água e contaminar os aquíferos com poluentes ligados ao câncer, defeitos congênitos, danos neurológicos e muito mais.

A queima do petróleo, carvão e gás ainda é responsável pela alteração química básica do oceano, tornando-o mais ácido. Nossos mares absorvem até um quarto de todas as emissões de carbono causadas pelo homem. As mesmas emissões estão diretamente ligadas às mudanças climáticas que ameaçam o planeta.

Forte impacto das mudanças climáticas

Para quem não sabe, a água é o principal meio pelo qual sentiremos os efeitos das mudanças climáticas. A disponibilidade de água está se tornando menos previsível em muitos lugares, e o aumento da incidência de inundações ameaça destruir os pontos de água e instalações de saneamento, além de contaminar as fontes de água.

Em algumas regiões, as secas estão aumentando a escassez de água, afetando a saúde e a produtividade das pessoas. Garantir que todos tenham acesso a serviços sustentáveis ​​de água e saneamento é uma estratégia crítica de mitigação das mudanças climáticas para os próximos anos.

Já passou da hora de tratarmos as mudanças climáticas como pauta prioritária e urgente. Elas não esperam por consensos institucionais, afetam toda a vida do planeta e o nosso recurso mais vital, que é a água. Estamos falando de um futuro muito próximo em que se chega ao fim da vida como conhecemos hoje”, ressalta Nicole Oliveira, diretora do Instituto Internacional Arayara.

A Arayara é uma das organizações que fazem parte do Acordo de Glasgow, um compromisso de pessoas e organizações em todo o mundo com a tomada de medidas concretas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa de forma estratégica.

Conheça alguns dados importantes sobre o impacto das mudanças climáticas:

  • Os impactos das mudanças climáticas são mais sentidos por meio de mudanças nas condições hidrológicas, incluindo mudanças na dinâmica da neve e do gelo. (ONU, 2020)
  • As mudanças climáticas terão seu impacto mais direto na sobrevivência infantil por meio de três canais diretos: mudança no ambiente de doenças, maior insegurança alimentar e ameaças à água e ao saneamento. (UNICEF, 2019).
  • As mudanças climáticas devem aumentar o número de regiões com escassez de água e exacerbar a escassez em regiões já com escassez de água. (ONU, 2020)
  • Em 2050, o número de pessoas em risco de inundações aumentará de seu nível atual de 1,2 bilhão para 1,6 bilhão. Do início a meados da década de 2010, 1,9 bilhão de pessoas, ou 27% da população global, vivia em áreas com potencial de escassez de água. Em 2050, esse número aumentará para 2,7 a 3,2 bilhões de pessoas. (ONU, 2020)
  • Mais de um quinto das bacias do mundo experimentaram recentemente aumentos rápidos em sua área de água superficial indicativo de enchentes, um crescimento em reservatórios e terras recentemente inundadas; ou declínios rápidos na área de água superficial, indicando o esgotamento de lagos, reservatórios, pântanos, várzeas e corpos d’água sazonais. (UN-Water 2021)

O que se projeta é que temperaturas mais altas e condições climáticas mais extremas e menos previsíveis afetem a disponibilidade e distribuição da chuva, derretimento da neve, fluxos dos rios e lençóis freáticos, deteriorando ainda mais a qualidade da água.

Comunidades de baixa renda, que já são as mais vulneráveis ​​a quaisquer ameaças ao abastecimento de água, provavelmente serão as mais afetadas.

Prevêem-se mais inundações e secas severas. Mudanças na disponibilidade de água também afetarão a saúde e a segurança alimentar e já provaram desencadear a dinâmica dos refugiados e a instabilidade política.

Neste Dia Mundial da Água, reforçamos ainda mais a urgência de se tratar tantas pautas que são vitais para o planeta e a vida.

Ativistas no Brasil e no mundo realizam greve climática global

Ondas de calor, secas, inundações, furacões, deslizamentos de terra, incêndios, perda de moradias e disseminação de doenças, junto aos desmatamentos e níveis de poluição recordes. Enquanto o Brasil e o mundo continuam enfrentando desastres em todas as esferas, ativistas climáticos em todo o planeta realizam ações na Greve Global Pelo Clima, nesta sexta-feira, 19 de março, para exigir ações imediatas, concretas e ambiciosas por parte de líderes mundiais em resposta à crise climática.

No Brasil, o Instituto Internacional Arayara e outras organizações se unem ao Fridays For Future, movimento que criou a greve.

Por conta da pandemia, será realizada uma greve digital nas redes sociais, disseminando a hashtag #ChegaDePromessasVazias (em inglês, #NoMoreEmptyPromises), com mensagens de organizações de todo o mundo, além de apresentações em escolas pelo Brasil e projeções em edifícios por todo o país, que ressaltam a emergência que vivemos a nível global.

Durante a semana, foram feitas ações de conscientização, lives com diferentes organizações, oficina online com a Arayara sobre a perigosa articulação para os leilões que vendem blocos para extração de petróleo e gás ao longo de todo o território brasileiro. Vale lembrar que, atualmente, a inclusão da Bacia Potiguar na 17ª rodada do leilão da exploração de petróleo e gás atinge diretamente o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, patrimônio mundial da humanidade, junto à Reserva Biológica do Atol das Rocas.

Em 2019, a greve levou mais de 7 milhões de pessoas às ruas pelo mundo, e no ano passado as ações virtuais envolveram 150 países em milhares de frentes. Este ano, a ideia é que as ações passem a efetivamente pressionar as lideranças capazes de fazer a diferença com a mesma força que as mudanças climáticas já nos afetam.

Já se passaram cinco anos desde que o Acordo de Paris foi assinado. Mais 3 anos desde que o relatório alarmante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) foi visto pelos olhos do público. Com tudo, a crise só piora e escala, e a inação dos governos continua alimentando as chamas a cada minuto.

Todos precisam entender que vivemos no mesmo planeta e que, como sociedade, temos que assumir compromissos concretos a curto prazo para superar essa emergência climática global e sem precedentes que vivemos. Sim, é preciso estabelecer metas. Mas ficar adiando ações que precisam ser imediatas pensando em um futuro distante é garantir que esse futuro nem irá existir”, ressalta Nicole Oliveira, diretora da Arayara.

“A ciência é clara: as mudanças climáticas estão exacerbando os desastres naturais ao tornar esses eventos mais fortes, mais intensos, mais frequentes e, portanto, mais destrutivos. Nossas vidas dependem de ações imediatas”, disse João Duccini, ativista climático do Brasil.

Algumas propostas da campanha:

  • Acabar com todo e qualquer investimento em exploração e extração de combustíveis fósseis
  • Adotar políticas climáticas que considerem o bem-estar das classes trabalhadoras e mais vulneráveis pela crise climática
  • Proteger e assegurar a democracia, fornecendo espaços e revogando leis que limitam a participação dos cidadãos na tomada de decisões sobre o clima
  • Tornar o ecocídio um crime internacional

Acordo de Glasgow é apresentado para organizações latino-americanas

Realizamos, nesta quinta-feira (4 de março), o webinar sobre o Acordo de Glasglow para organizações da América Latina, onde apresentamos essa iniciativa, abordando os efeitos que o acordo terá nos países latino-americanos, quais são seus dispositivos e quais são os passos esperados para os próximos anos.

Durante o webinar, a diretora do Instituto Internacional Arayara, Nicole Oliveira, apresentou o acordo e destacou como o movimento pela justiça climática sempre esteve lutando por mudanças, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP) e também fora dela, mas que a falta de ações concretas nestas iniciativas institucionais vem mudando o cenário.

“Há cada vez menos movimentos e ONGs que fazem parte da COP e do processo que envolve as instituições e os governos. Então, como podemos criar, como sociedade, uma ferramenta organizacional que reconheça o fracasso das instituições e se proponha a sacudir essa impotência institucional?”, ressaltou.

“Assim, o Acordo de Glasgow visa retomar a iniciativa de governos e instituições internacionais sobre ação climática, criando uma nova alternativa (inventário e agenda climática), além de um espaço de estratégia e coordenação para o movimento por justiça climática”, explica.

Veja a apresentação abaixo (em espanhol):

O Coordenador Nacional do Movimento Cidadão frente às Mudanças Climáticas (MOCICC) do Peru, Antonio Zambrano, destacou que “o Acordo de Glasgow visa ir além do que os governos e estados se comprometem a fazer. Todos sabem que esses compromissos que vêm sendo assumidos pelos governos são absolutamente insuficientes para deter o fenômeno das mudanças climáticas no mundo, incluindo os países da América Latina”.

Ao assinar este acordo, o movimento de justiça climática assume a necessidade de cortar coletivamente as emissões de gases de efeito estufa por meio de uma estrutura política de justiça climática.

Essas organizações se comprometem com o uso adequado de táticas para conseguir alcançar metas concretas e reconfigurar a economia que os governos e as instituições internacionais fracassaram totalmente em realizar.

Qualquer movimento ou organização social, de qualquer porte, localidade ou região, com exceção de partidos políticos, organizações empresariais e igrejas (grupos religiosos são bem-vindos!) pode participar do Acordo.

Por que o Reino Unido continua a apoiar combustíveis fósseis, inclusive no Brasil?

Na contramão de tudo que vem prometendo para combater as mudanças climáticas e se adequar a uma agenda sustentável, o Reino Unido está considerando apoiar mais 17 projetos de combustíveis fósseis – incluindo um de petróleo offshore brasileiro que vai contribuir com nada menos do que as mesmas emissões de 800 mil carros por ano.

No ano passado, o governo decidiu encerrar o apoio a projetos de combustíveis fósseis no exterior antes de o Reino Unido sediar a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26) – que será realizada em Glasgow, em novembro.

Recentemente também havíamos publicado aqui que dentro de sua agenda verde, o Reino Unido resolveu proibir a venda de carros e vans movidos a diesel e gasolina a partir de 2030.

De acordo com o jornal britânico The Telegraph, este mês foi descoberto que a agência de crédito à exportação do país, a UK Export Finance, está considerando apoiar estes projetos, que podem ser concluídos até julho, antes que a proibição seja introduzida.

Entre eles está um projeto offshore de petróleo e gás no Brasil que deve produzir mais de 2 milhões de toneladas de CO2 por ano só para sua construção e operação.

Mais detalhes dos projetos potenciais foram revelados em uma investigação feita por jornalistas da SourceMaterial. A agência ainda não calculou as emissões da eventual queima dos combustíveis fósseis, que devem ser ainda maiores.

Isso ocorre no momento em que o governo enfrenta críticas no cenário mundial por sua política ambiental local, incluindo a primeira mina profunda de carvão em 30 anos planejada em Cumbria, na Inglaterra.

Ainda de acordo com o The Telegraph, o UKEF forneceu mais de £ 3,5 bilhões em apoio na forma de empréstimos e garantias para projetos de combustíveis fósseis desde que o Acordo de Paris foi assinado, com emissões associadas no valor de quase um sexto da produção doméstica de carbono do Reino Unido.

Enquanto desenvolvem uma política, executam o completo oposto. E essa, obviamente, não deveria ser a lógica.

Projeto de petróleo offshore no Brasil

A costa sudeste do Brasil é uma das partes mais ricas em petróleo do mundo.

As plataformas de perfuração, que contarnam essa costa, são servidas pelo que a indústria do petróleo chama de unidades Flutuantes de Produção, Armazenamento e Descarregamento (Floating Production Storage and Offloading – FPSO, em inglês), navios que processam e armazenam o óleo até que ele possa ser carregado em um navio-tanque ou transportado por um oleoduto.

O Ministro do Comércio do Reino Unido, Graham Stuart, disse ao parlamento que um dos projetos que estão sendo considerados é um FPSO. Ele também disse em outra ocasião que dois projetos estão sendo considerados no Brasil.

A Yinson, uma empresa da Malásia que é uma das maiores fabricantes mundiais de FPSO, está trabalhando na conversão de um navio projetado para transportar petróleo bruto em uma unidade de FPSO no Brasil. O UKEF organizou feiras de fornecedores em abril e outubro para as empresas explorarem oportunidades de entrar na cadeia de suprimentos deste projeto.

Explorar e poluir até o último minuto

A decisão do governo de encerrar o financiamento de combustíveis fósseis foi bem recebida e seguida por decisões semelhantes na União Europeia e nos Estados Unidos. Mas o que preocupa é que mais poluição seja incorporada antes que uma proibição seja introduzida.

Outros projetos em consideração para apoio do UKEF, que podem ser concluídos até julho deste ano, incluem um gasoduto no Turcomenistão e projetos no Azerbaijão, China e Omã.

Com essa inclinação, o Reino Unido prejudica sua credibilidade internacional sobre o clima no mesmo ano em que sedia a COP26, onde espera garantir compromissos climáticos importantes de outros governos.

O que não faz sentido é se promover em cima de uma pauta tão importante quanto a emergência climática e nos bastidores continuar incentivando o financiamento de novos projetos de combustíveis fósseis no exterior.