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O carvão e as termelétricas no centro do debate

O Brasil sinaliza, nos últimos anos, o aumento de investimentos em carvão mineral, com projetos de exploração de minas, e novas termelétricas no plano decenal de energia, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), que pode chegar na casa de 7 GW. Com isso, há incentivo a uma matriz mais suja e cara e consequente ao aumento de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs) e todo seu comprometimento associado à saúde. 

O impulsionamento segue na contramão de uma economia de baixo carbono, e está sendo combatido, inclusive, pelos maiores financiadores mundiais. Nesta semana, 631 investidores, que administram US$ 37 trilhões em ativos, deram o seguinte recado, por meio do documento “Declaração de investidores globais aos Governos sobre Mudança do Clima”, durante a COP-25*, em Madri: que haja a eliminação gradual da energia térmica a carvão, entre outras metas.

Por aqui, há um processo contraditório. Os maiores empreendimentos estão em curso na região sul do país, nas últimas décadas, e ganharam um reforço de institucionalização pelo governo do estado do RS, com a criação do Polo Carboquímico, em 2018, mas que não está implementado.

Mais uma iniciativa polêmica é a tramitação do processo de licenciamento da Mina Guaíba, empreendimento da empresa Copelmi, na região metropolitana de Porto Alegre, sobre a qual a 350.org, o Instituto Internacional Arayra e a Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (COESUS) estão se mobilizando com outras organizações da sociedade civil, para frear este processo. Entre as medidas, estão duas ações civis públicas, que pedem a suspensão imediata do processo de licenciamento prévio da Mina junto à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) do Rio Grande do Sul, movidas pelo Instituto Arayara, pela Associação Indígena Poty Guarani e pela Colônia de Pescadores Z5, em outubro deste ano. O Ministério Público Federal (MPF) também abriu inquérito (confira abaixo). Nesta semana, uma das ações mais recentes da 350.org e Arayara foi a parceria na organização de seminário, que foi realizado pela Câmara Municipal de Canoas.  

Mestre em Física e especialista em Mudanças Climáticas e Energia, Kishinami fala sobre este cenário no Brasil e a importância da criação do Observatório do Carvão Mineral,  na qual as ONGs participam, que propõe uma aproximação deste tema à sociedade. 

A entrevista especial desta semana foi concedida à jornalista Sucena Shkrada Resk, da 350.org, no Brasil. Kishinami é coordenador sênior do setor de Energia do Instituto Clima e Sociedade (ICS).

Confira a íntegra da entrevista:

350.org Brasil – Qual é a situação do Brasil atualmente com relação à matriz fóssil do carvão e quanto ao planejamento de termelétricas?
Roberto Kishinami (ICS) – O Brasil tem um sistema no setor elétrico, que começa com a indicação do governo sobre os planos para o período de dez anos – Plano Decenal de Expansão da Energia (PDE), que é atualizado ano a ano. O de 2019 acabou de sair do período de consulta pública no Ministério de Minas e Energia (MME). Neste documento, está indicado para os próximos 10 anos, expansão de térmicas a combustíveis fósseis. 

O quadro geral é o seguinte – em números redondos, num total de 60 GW de expansão, estão indicados 28 GW a fósseis; nestes 28 GW, até 7 GW podem ser a carvão e o restante a gás natural liquefeito (GNL), mais próximo à costa brasileira. Por exemplo, Itaipu, que é a nossa maior hidrelétrica, tem 14 GW instalados. Essa expansão equivaleria a duas vezes esta potência. 

O que ocorre atualmente é que algumas plantas térmicas já existentes a carvão e a óleo combustível terão de ser aposentadas, nos próximos dez anos, porque estão terminando suas vidas úteis. 

350.org Brasil – Pode-se dizer que o Brasil está retrocedendo quanto às políticas públicas energéticas, com essa retomada em fósseis?
Roberto Kishinami – Há setores negacionistas atualmente no núcleo do governo federal quanto às mudanças climáticas. Isto abre espaço para que o lobby do setor de carvão, que sempre foi muito ativo, entrasse com uma proposta de financiar as térmicas a carvão, inclusive as suas reformas. Como a maior parte delas está no fim de sua vida útil, a ideia é dar um upgrade, podendo tocá-las por mais uns 70 anos. Isto, na verdade, é parte de uma conjuntura política. Não considero que seja uma derrota e muitos aspectos devem ser considerados. Primeiro o mais determinante em termos de longo prazo, é que as renováveis, principalmente solar e eólica, reduziram muito seus preços. 

No último leilão, colocaram energia para as distribuidoras a um preço equivalente a US$ 20, o MWh. No leilão anterior, as de biomassa tinham colocado o valor médio de US$ 40, para o MWh. Já as térmicas a gás natural, US$ 60 MWh. Há uma diferença de preços muito significativa. O carvão está um pouco acima do gás natural, na casa dos US$ 70. As empresas colocam esses valores no mercado. Isso demonstra que a competitividade das matrizes fósseis no setor elétrico já é muito ruim, negativa. Em longo prazo, não vão prevalecer. 

O problema que o governo cria, quando privilegia fontes fósseis e nega a questão climática, é empurrar o país para ficar com ativos encalhados, mas que foram objeto de financiamento público e contrato com distribuidoras com períodos longos. Uma termelétrica pode ter contrato de até 25 anos de fornecimento. 

Nós, enquanto consumidores, estaríamos arcando com custos por décadas, sem haver necessidade. Por outro lado, nós, como contribuintes, estaremos colocando dinheiro (sem saber) nestes empreendimentos, financiados por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para viabilizar a atualização destas plantas, que contribuem para as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEES), de uma forma absurda.

Para cada MWh de energia gerada em uma térmica a carvão você tem uma tonelada de CO2 lançada para a atmosfera. Quando é a gás, a relação é de 600 kg lançados para a atmosfera, em regime contínuo. Já quando é no regime de ‘liga e desliga’, que chamamos de térmica de ciclo aberto, que servem para suprir as pontas do sistema, é na casa de 1 tonelada de CO2 por MWh. Se estamos falando de 21 mil MWh instalados x 8.760 horas, daria uma emissão na casa de dezenas de milhões de toneladas de CO2. Isso quer dizer pouco mais que dobrar as emissões do setor elétrico, sem necessidade, para o perfil dos potenciais do Brasil.

350.org Brasil – Geralmente o governo federal alega que aciona as termelétricas para suprir principalmente as hidrelétricas em momentos de seca e estiagem. O que tem a dizer a respeito para rebater este argumento?
Roberto Kishinami – Este modo de pensar é muito antigo e não enquadra as fontes atuais renováveis – eólica, solar e biomassa. Há cerca de 30 e 40 anos, havia um ponto consensual de que em países com fontes hidrelétricas, como o Brasil, era necessário complementá-las com termelétricas no sistema. Foi nesse período que vieram as termoelétricas a carvão do sul, que sempre foram muito caras. 

A questão que hoje a gente vive é que as fontes mais baratas que as hidrelétricas são solar e eólica. Mesmo a energia solar, em cinco a dez anos, vai ser complementada por baterias. Os preços, na verdade, estão caindo. A partir daí não haveria mais essa discussão de qual seria a melhor opção. 

É preciso mudar as orientações governamentais de como se pensa o planejamento e alteração no setor. Envolve órgãos, como a Secretaria de Planejamento Energético, no MME, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Operador Nacional do Sistema (ONS), entre outros.  O negacionismo ainda é presente no MME e há propostas, por exemplo, de incentivo à energia nuclear, que é algo dos anos 60 e 70.

350.org Brasil – Qual sua avaliação sobre a iniciativa da criação do Observatório do Carvão, nesta conjuntura?
Roberto Kishinami – É fundamental para expor uma popularização sobre este tema. Se você avalia os danos que o carvão causa ao meio ambiente e à saúde, desde à mineração à queima, todo o ecossistema, tudo que está vivo sofre os efeitos. O Observatório pode acompanhar e apresentar estes pontos de uma maneira sistemática e permanente para a sociedade. Este é o principal papel. O Brasil, na verdade, não tem uma discussão sistemática sobre questões de energia, com isso fica prejudicado o debate mais aprofundado sobre projetos como da Mina Guaíba, no RS. No estado, os investimentos nesta área estavam focados mais no interior e agora na região metropolitana, bem próximo a Porto Alegre. E a correlação com o cotidiano das pessoas é algo fundamental. Hoje o Observatório é formado pelo ICS, pela 350.org Brasil,  pela COESUS, pelo Instituto Arayara e pela Rede Guarani, além de representantes da sociedade civil.

350.org Brasil – Qual é a importância de parcerias de diferentes organizações nesta iniciativa do observatório?
Roberto Kishinami – Nenhuma organização sozinha dará conta desta área de energia e especificamente do carvão. É preciso estabelecer alianças. É um tema multidisciplinar – energético, ambiental e de saúde. Tem de reunir partes diferentes da sociedade civil neste processo. É preciso trazer outras áreas da sociedade, mobilizadas por outros motivos, que tratam da territorialidade; outros, da vida saudável. Essas questões fazem parte do processo ao longo deste século. O combate às mudanças climáticas tem a ver com a ação do homem sobre o meio ambiente. Trata-se de um sistema climático global, com diferentes efeitos localmente em diferentes partes do planeta. Para isso, é preciso aumentar o grau de informações às pessoas e facilitar mudanças de comportamento, que a gente adquire, mesmo sem perceber, que são prejudiciais. 

Um exemplo é a dependência de veículos movidos a combustíveis fósseis. Hábitos de consumo são extremamente dispendiosos, no ponto de vista de energia e emissões. Para tratar de tudo isso, o Observatório pode reunir todas estas percepções e dialogar com a sociedade estes temas, trazendo tópicos do cotidiano para atrair mais interesse. 

350.org Brasil – Qual sua análise sobre cenários climáticos em xeque nas negociações na COP-25?
Ricardo Kishinami – Do lado dos cientistas, está claro que estamos perto de um limite perigoso quanto ao aumento médio na temperatura do planeta, devido ao aumento das emissões. Os relatórios já utilizam uma linguagem alarmista, alertando que ‘acabou o tempo’. Quando pesquisadores chegam neste tom, é que realmente estão assustados, pois o processo está mais acelerado do que previam. Traduzindo na linguagem no dia a dia, é que estamos expostos a um grande perigo climático. 

O pessoal de hidrologia, que está envolvido no estudo na bacia do São Francisco, por exemplo, explica que hoje não existe mais um padrão hidrológico, que se repete periodicamente, ou seja, um regime estacionário. Com isso, fica difícil fazer as estatísticas para fazer a previsão do futuro. Causa uma instabilidade para o setor elétrico e também com relação à saúde humana, quanto a doenças tropicais. Estes são alguns dos aspectos que emergem. 

Temos elementos, na questão de saúde, de abastecimento de água, ondas de calor e de frio que o Brasil tem de tratar e agir de acordo para contribuir para a redução das emissões de GEEs.

*COP-25 – Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima

Sobre a Arayara + 350.org e o carvão

A 350.org é um movimento global de pessoas que trabalham para acabar com a era dos combustíveis fósseis e construir um mundo de energias renováveis e livres, lideradas pela comunidade e acessíveis a todos. Nossas ações vêm ao encontro de medidas que visem inibir a aceleração das mudanças climáticas pela ação humana, que incluem a manutenção das florestas. Uma das campanhas que desenvolve com os parceiros Arayara e COESUS atualmente é contra a exploração minerária e utilização do carvão para geração de energia com parceiros, no Rio Grande do Sul. Essa iniciativa é ampliada como ONG integrante do Observatório do Carvão Mineral , junto com Arayara, COESUS, ICS e Rede Guarani, além de representantes da sociedade civil.

As ações são multidisciplinares, já que ao mesmo tempo, a 350.org age em defesa de comunidades indígenas e de outras comunidades tradicionais, que são afetadas por estes empreendimentos carboníferos, por meio do Programa 350 Indígenas e vem reforçando seu posicionamento em defesa destas famílias por meio da campanha Defensores do Clima.

Por: Sucena Shkrada Resk

O carvão, um assassino silencioso

A única maneira de combater a contaminação com carvão é fechar todas as minas e usinas do mundo e desenvolver somente energias alternativas, afirma especialista norte-americano.

Buenos Aires, 26 de abril (Terramérica) – Os acidentes fatais em minas de carvão, como os ocorridos nos Estados Unidos e na China, causam comoção. Mas o médico norte-americano Alan Lockwood alertou que são muito mais as mortes pela contaminação derivada da exploração desse mineral. Com o apoio de estudos da organização Médicos para a Responsabilidade Social (filiada à Internacional Physicians for the Prevention of Nuclear War, ganhadora do Nobel da Paz em 1985), Lockwood afirma que o carvão provoca doenças cardíacas e respiratórias crônicas, danos cerebrais e câncer, que estão entre as cinco principais causas de mortes nos Estados Unidos.

Suas conclusões e as de outros especialistas foram divulgadas em novembro no informe O impacto do carvão sobre a saúde humana. Ali há o alerta sobre as doenças causadas pelo mineral, desde sua extração até a disposição final dos resíduos, passando pela queima para produzir eletricidade. Apesar dos danos à saúde e à atmosfera pela emissão de gases-estufa, a matriz energética mundial tem o carvão como primeira fonte. China, Estados Unidos, África do Sul, Polônia, Austrália e Israel, entre outros, produzem a maior parte de sua eletricidade com base neste mineral.

O Greenpeace Argentina, que protesta contra a construção de uma usina de carvão no Rio Turbio, sudoeste da província de Santa Cruz, convidou Lockwood para visitar Buenos Aires, ocasião em que conversou com o Terramérica.

Terramérica: Que impacto tem a produção de carvão na saúde humana?

Alan Lockwood: Dezenas de milhares de pessoas morrem por ano nos Estados Unidos e muitas outras sofrem doenças graves ou menores, como asma e afecções pulmonares obstrutivas crônicas e câncer de pulmão. Também ataques cardíacos, apoplexia ou redução da capacidade intelectual.

Terramérica: Estes impactos devem ser somados às doenças derivadas da mudança climática?

AL: Sim. O dióxido de carbono é o gás contaminante mais conhecido, mas há outros, como o metano, que também deriva desta atividade e que tem um efeito estufa 20 vezes mais potente do que o anterior. Isto aumenta as doenças associadas ao aumento da temperatura, como dengue, malária, diarréia provocada por inundações e pela contaminação da água, todos problemas de saúde ligados à mudança climática.

Terramérica: Quais as fases da produção de carvão que mais contaminam?

AL: A maior é a da queima. Mas desde que os trabalhadores o extraem da mina até as cinzas que vão parar em depósitos de lixo, todos são passos que têm impacto na saúde.

Terramérica: Quais substâncias tóxicas derivam da mineração e combustão do carvão?

AL: Principalmente dióxido de enxofre, óxido de nitrogênio, mercúrio e materiais particulados, que são pequeníssimos, com 2,5 micrômetros ou menos. Além de materiais radioativos, como urânio e tório, que estão dentro do carvão e vão para a atmosfera. Alguns, inclusive, acabam nos lugares de eliminação das cinzas.

Terramérica: É preciso estar muito perto de uma mina ou de uma central para se contaminar?

AL: Não necessariamente. Claro, quanto mais perto de uma usina de carvão mais perigoso é. Porém, muitos destes contaminantes percorrem longas distâncias pelo ar até serem inalados, e também chegam por meio da água. O mercúrio, por exemplo, fica no ar, a chuva o leva para cursos fluviais, daí chegam aos peixes que logo serão nosso alimento. Não há como escapar do carvão.

Terramérica: Por que em seu informe não são mencionados os acidentes em minas como parte do impacto do carvão na saúde?

AL: Não aparecem por falta de espaço, salvo uma referência geral aos perigos da mineração. Mas agora estou escrevendo um livro para publicar dentro de dois anos e nele dedicarei um capítulo a esse assunto. Nos Estados Unidos, está muito presente nas notícias por causa do acidente em West Virginia (onde em março uma explosão matou 29 mineradores), mas na China são milhares os trabalhadores em minas de carvão que morrem por ano vítimas de acidentes.

Terramérica: Então, os acidentes devem ser considerados parte dos efeitos sanitários da mineração de carvão?

AL: Sim. Mas apesar desses terríveis acidentes, que são notícias de grande impacto, pior é a morte de 10 mil a 20 mil pessoas por ano nos Estados Unidos por doenças relacionadas ao carvão. E a imprensa nada fala sobre isto.

Terramérica: O que recomenda, então, para gerar energia? Fechar as minas e as centrais térmicas? Produzir de forma mais limpa?

AL: O que se deve fazer é desenvolver energias alternativas como solar, eólica, hidrelétrica e de marés, que não produzem dióxido de carbono, enxofre, dióxido de nitrogênio nem mercúrio. Assim se favorece o uso eficiente da eletricidade. É uma boa estratégia para criar bons empregos, fazer crescer a economia e cuidar do meio ambiente e da saúde.

Fonte: Associação Brasileira do Ministério Público do Meio Ambiente

Carvão X energia solar: quem gera mais emprego?

Enquanto o carvão gera 370 empregos, a energia fotovoltáica pode gerar de 29 mil a 107 mil empregos

O estado do Rio Grande do Sul, como muitos estados brasileiros, vive uma das mais graves crises financeiras da história. Em momentos como o que vivem os gaúchos, alguns empreendimentos surgem como tábuas de salvação para a economia local e a geração de emprego e renda. Cifras vultosas, muitas, escondem grandes riscos e erros. É o caso da Mina Guaíba, um projeto que promete criar a maior mina a céu aberto de exploração de carvão mineral do Brasil.

Segundo a Copelmi, a maior mineradora privada de carvão no País e que lidera o projeto Mina Guaíba,“trata-se de um projeto estratégico para o Estado do Rio Grande do Sul, visto que nosso Estado tem forte dependência da importação de energia gerada em outras regiões do País, fato que interfere diretamente no desenvolvimento econômico, social e tecnológico da nossa região Sul.

O projeto apresentado pela Copelmi fala em investimentos da ordem de R$ 4,4 bilhões e promete gerar, durante a implantação do empreendimento, 331 empregos diretos e 83 empregos indiretos ao longo dos três anos da obra. Ou seja: 414 empregos.

A Mina Guaíba, localizada nos municípios de Charqueadas e Eldorado do Sul, teria uma área de mais de 4 mil hectares, ou seja, 4.373 campos de futebol. Toda essa área explorada para gerar 414 empregos.

Agora vejamos uma comparação simples entre os empregos gerados pela mineração do carvão e os empregos gerados por energias renováveis. Segundo o Délcio Rodrigues e Roberto Matajs:

FontePostos de trabalho anuais por Terawaat-hora
Nuclear 75
PCHs 120
Gás natural 250
Hidroeletricidade 250
Petróleo 260
Petróleo Offshore 265
Carvão 370
Lenha 733 – 1.067
Eólica 918 – 2.400
Álcool 3.711 – 5.392
Solar (fotovoltaica) 29.580 – 107.000

Na contra-mão do Rio Grande do Sul, especialistas apontam que até 2030, as fontes de energia limpa devem substituir as fósseis. As projeções já apontam até mesmo quando as fontes renováveis se tornarão mais baratas. Ainda assim, em outubro de 2017, a Assembleia Legislativa gaúcha aprovou a Lei 15.047/2017, que cria a Política Estadual do Carvão Mineral e institui o Polo Carboquímico do Rio Grande do Sul. A lei inclui, claro, isenção fiscal.

O Rio Grande do Sul tem uma escolha a fazer: incentivar o desenvolvimento sócio-econômico a partir de uma matriz energética limpa (que gera de 29.580 – 107.000 empregos postos de trabalho anuais por Terawaat-hora), ou a partir do carvão (que foi o grande motor energético da Revolução Industrial no século 18).

É preciso pensar estrategicamente em todos os aspectos que envolvem a geração de energia. A geração de emprego é um desses aspectos. Quantos empregos podem ser gerados? Qual a qualidade dos empregos que cada setor gera? Nos EUA, por exemplo, a geração de emprego no setor de energia limpa cresceu 12 vezes do que a economia norte-americana em 2017. Aqui no Brasil, o mesmo setor gerou, de 2012 a 2018, 72 mil empregos diretos. Em 2019, serão mais de 37 mil novos empregos, totalizando 109 mil empregos diretos.

Especificamente no Rio Grande do Sul, investindo metade do valor que promete investir a Copelmi, o Consórcio Chimarrão, formado pela empresa de origem espanhola Cymi Construções e Participações e pelo Brasil Energia Fundo de Investimentos, da Brookfield, anunciou que vai antecipar em quase dois anos o cronograma dos R$ 2,4 bilhões de investimentos em estruturas de transmissão de energia eólica no Estado. As informações são do Governo do Estado. Serão 1,2 mil quilômetros de linhas de transmissão e duas novas subestações e 6.088 empregos diretos.

Como a mineração do carvão afeta a tua saúde

Como a mineração do carvão afeta a tua saúde

Câncer, problemas respiratórios, alergias, contaminação por mercúrio, cádmio, arsênio, chumbo, tório e urano são alguns dos riscos

Muito tem sido falado sobre a possível implantação da Mina Guaíba, localizada na região metropolitana de Porto Alegre, que atualmente está em processo de licenciamento ambiental. A Mina Guaíba tem muitos problemas, entre eles a falta de informação e diálogo com as comunidades envolvidas. Mas hoje escolhemos falar sobre os danos que esse projeto pode causar à saúde de mais de 4 milhões de gaúchos que vivem na região metropolitana de Porto Alegre. O carvão mata silenciosamente e as consequências de sua exploração podem durar por décadas e gerações.

Veja como o ciclo funciona:
Ao minerar o carvão, é gerada uma nuvem gigante de poeira. As partículas tóxicas geradas nesse processo podem ficar por semanas no ar. Essas partículas são respiradas. Além disso, a poeira cai no chão e polui rios e plantações.

A poeira polui o capim. O capim é o alimento dos animais que, intoxicados, adoecem e morrem. Ou que, mesmo contaminados, acabam servindo de alimento para o homem. (Lembrar de falar do arroz)

A água poluída pouco se diferencia da água pura visualmente. Isso faz com que as pessoas continuem a usá-la para beber, cozinhar e tomar banho. Vale lembrar que, mesmo filtrada, a água contaminada não se livra dos elementos tóxicos.

As árvores absorvem os elementos tóxicos da água e da poeira. Em alguns casos, elas apodrecem. Em outros, geram frutos contaminados.

Os rejeitos líquidos são dispensados nas nascentes de rios e lagos, poluindo as fontes de água.

Os rejeitos sólidos, com ajuda das chuvas, são filtrados no subsolo. Poluem, assim, os lençóis freáticos (principais reservas de água do mundo), o solo e as plantações.

Todas as substâncias tóxicas geradas pela mineração do carvão entram na cadeia alimentar (micróbios, plantas, bichos herbívoros, bichos carnívoros). Os tóxicos vão se acumulando dentro deles. E a concentração desses tóxicos vai aumentando conforme avança a cadeia alimentar.

O último elo da cadeia alimentar é o ser humano. Ele pode ser contaminado pela poeira (quando respira), pela água (banho e alimentação), ao comer animais (peixes, gado, frango, etc) contaminados. Os elementos tóxicos vão se acumulando e gerando doenças graves que podem se manifestar rapidamente (doenças respiratórias e alergias, por exemplo) ou levar anos para se manifestar (silicose, por exemplo).

Quais são os elementos tóxicos liberados a partir da mineração do carvão?
São muitas as substâncias cancerígenas e mutagênicas envolvidas nesse processo: Mercúrio, Cádmio, Arsênio, Chumbo, Tório, Urano, Radionuclídeos, entre outros.

O que esses elementos tóxicos causam?
O mercúrio, por exemplo, mimetiza células nervosas. Toda criança que tenha pai ou mãe contaminados, terá problemas neurológicos, pois seu cérebro não conduzirá eletricidade. O arsênio, se introduz nas células causando câncer.

Os elementos tóxicos da mineração do carvão causam quais doenças?Asma, bronquite crônica, alergia de pele, danos no sistema nervoso, câncer de pele câncer de fígado, câncer de rins, câncer de pulmão, cirrose, insuficiência renal, problemas no estômago e no intestino, fibrose pulmonar, silicose, malformações fetais, complicações na gravidez e no parto, atraso no desenvolvimento físico e mental das crianças.

Como as pessoas entram em contato com esses elementos tóxicos?
Pela respiração; comendo ou bebendo alimentos contaminados; por contato com a pele (exemplo: poeira ou objetos contaminados).

O que acontece com quem mora perto de uma mina de carvão?
A poluição do ar é o principal problema. A silicose é uma doença muito comum entre os mineradores e as pessoas que moram perto às minas. A silicose é a acumulação de pó de sílica nos pulmões. Com o passar do tempo, esse pó vai petrificando os pulmões (fibrosa pulmonar) até que os órgãos deixam de funcionar. O risco de câncer de pulmão e de tuberculose em pessoas com silicose é altíssimo.

E o aquecimento global?
A queima do carvão libera dióxido de carbono, dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio, que causam poluição na atmosfera, agravam o aquecimento global, aceleram as mudanças climáticas e contribuem para a ocorrência das chuvas ácidas. Essas chuvas provocam a acidificação do solo e da água que, por sua vez, provoca alterações na biodiversidade, como a corrosão de estruturas metálicas.

Para que serve uma mina de carvão, afinal de contas?
Para nada que faça bem ao ser humano e ao planeta. O carvão é um combustível fóssil que deve ser deixado onde está desde a formação do planeta: debaixo da terra.

Como a mineração do carvão afeta a tua saúde

Rio Grande do Sul pode escolher: carvão ou energia limpa

O Rio Grande do Sul tem em andamento um projeto em licenciamento ambiental para a implantação da maior mina a céu aberto do Brasil para a exploração de carvão. Isso mesmo sabendo-se que o carvão mineral é apontado como um dos principais causadores das mudanças climáticas em nível global. Além das questões climáticas – que inclui temperaturas alteradas, intensidade das chuvas, furacões e ondas de calor – há questões econômicas e sociais.

De acordo dados do Instituto de Economia Energética e Análise Financeira publicados pelo The Guardian, a China, maior produtora de carvão mineral do mundo, comprometeu-se em investir bilhões de dólares em usinas de carvão nos seguintes países: Bangladesh, Paquistão, Indonésia, Vietnã, África do Sul, Zimbábue, Bósnia, Quênia, Gana, Brasil, Malawi, Sérvia, Turquia, Filipinas e Cazaquistão. O Malawi está entre os 20 países com a menor renda per capta do mundo; Bangladesh, Paquistão, Zimbábue, Quênia e Gana têm renda per capita inferior a U$ 1.600,00 por ano. Já a renda do Brasil é de U$ 9.800,00.

Enquanto isso, a Alemanha decidiu parar de usar carvão até o final de 2038 e o governo alemão planeja o fechamento de usinas nucleares nos próximos três anos. As medidas permitem à Alemanha integrar a Powering Past Coal Alliance – PPCA (Aliança de energia para além do carvão). A PPCA foi fundada em 2017, reúne 30 governos nacionais e tem como cessar a construção de novas usinas movidas a carvão, encerrar o financiamento internacional para o combustível e se ater às metas do Acordo Climático de Paris. Fazem parte da PPCA Canadá, Reino Unido, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Etiópia, El Salvador, Finlândia, França, Itália, Ilhas Marshall, Portugal, México, os estados americanos Havaí, Califórnia, Nova York, Oregon e Washington, entre outras nações.

O Brasil e o Rio Grande do Sul ainda podem fazer sua escolha.